domingo, 12 de abril de 2015

Viação Ideal

Nossa matéria de hoje retrata mais um italiano que veio viver no Rio, constituiu família, se especializou em transportes e se naturalizou brasileiro, como fez também o seu compatriota Mário Bianchi, ambos da cidade de Trieste. A diferença entre eles é que Bianchi começou quase nove anos antes e morreu muito cedo, não vendo seu reinado ir adiante como foi o de Luciano Stor, dono da Viação Ideal, atualmente ainda em circulação, e sendo a mais antiga empresa carioca.

Assim como Bianchi, não começou sozinho e sim com um sócio, Carlos Teixeira de Vasconcellos, daí a primeira razão social da empresa: Stor & Vasconcellos.

Aqui, inserimos uma declaração do historiador Jaime Moraes, do blog Ilhajaime: “Quando lecionava para o antigo Curso Ginasial, fui professor do Jayme Stor, filho de um dos donos da Viação Ideal. Como ele sabia que eu gostava  de colecionar velharias, certo dia me presenteou com o velocímetro, cuja foto lhe envio. Foi retirado de um ‘Aclo’, que infelizmente foi sucateado para a retirada de peças. O velocímetro é uma obra prima de robustez, com um rolamento de esferas na entrada do cabo que vem da caixa de mudanças. O corpo é de alumínio fundido e tem uma inscrição com a data de 1931.  Impressiona para a época a velocidade máxima de 100 km/h. Os ‘Aclo’ eram bem capazes de atingir esta velocidade... Curiosamente é o mesmo tipo de velocímetro, inclusive a marca, utilizado nos veículos da Rolls Royce, com o zero na parte superior.”  


Dito isso, temos a primeira informação publicada, dando satisfação à população da criação de uma linha entre o Largo do Tanque e o Pontal, atualmente conhecido como Recreio dos Bandeirantes.

Nessa informação constava itinerário e seções, que eram:

- Itinerário: Tanque, Estrada da Taquara, Estrada da Pavuna, Camorim, Abaeté, Vargem Pequena, Vargem Grande, Rio Bonito, Estrada das Piabas e Pontal.

- Seções: foram divididas em seções de $500 (quinhentos réis), do Tanque à Pavuna, da Pavuna ao Camorim, do Camorim a Vargem Pequena, da Vargem Pequena a Vargem Grande, da Vargem Grande a Piabas, de Piabas ao Recreio e tendo a passagem direta o custo de 3$000 (três mil réis).

(Diário da Noite, 21/12/1933)

O despacho dando concessão para a linha foi deferido em 21 de outubro de 1933, mas seu Termo Inicial de Obrigação só foi assinado mais tarde. A sede da empresa era na Estrada da Vargem Grande, em Jacarepaguá.

(Jornal do Brasil, 21/12/1933)

Em 1936, temos o rompimento da sociedade e um novo Termo de Transferência de Autorização é oficializado em 21 de dezembro de 1936, de Stor & Vasconcellos (Luciano Stor e Carlos Teixeira de Vasconcellos), proprietários da Viação Ideal, para Luciano Stor, agora sendo denominada Empresa Viação Ideal S.A.

A linha mudou para Largo do Tanque x Recreio dos Bandeirantes, e o seu itinerário passou a ser Largo do Tanque, Estrada da Taquara, Estrada Guaratiba, Ponte de Pavuna, Camorim, Vargem Pequena, Vargem Grande, Piabas, Estrada das Piabas, Caminho dos Bandeirantes, e vice-versa.

Suas seções foram divididas em Largo do Tanque à Ponte da Pavuna, $500 (quinhentos réis); da Ponte da Pavuna a Camorim, $500 (quinhentos réis); do Camorim a Vargem Pequena, $500 (quinhentos réis); de Vargem Pequena a Vargem Grande, $500 (quinhentos réis); da Vargem Grande a Piabas, $500 (quinhentos réis) e de Piabas ao Recreio dos Bandeirantes, $500 (quinhentos réis) (1).

Conforme recorte anexo, em 1939 a empresa obteve licença da PDF para a inclusão de mais um ônibus na frota.

(Correio da Manhã, 26/09/1939)

Os dois próximos recortes, mostram um atropelamento na Estrada dos Bandeirantes, ocorrido com um ônibus da empresa, já então fazendo a linha Taquara x Recreio dos Bandeirantes.

(Diário Carioca, 11/05/1948) 

(Diário da Noite, 11/05/1948)

Conforme novo recorte encontrado, garantimos e afirmamos que a linha Largo do Tanque x Recreio dos Bandeirantes ainda existia na data e ostentava o número de linha S-31.

Vejam senhores “passageiros”, o que pode acontecer quando há discussões, por causa do aumento da passagem do S-31. Seu motorista levou tiros em suas nádegas, de um passageiro com o qual ele discutiu e o que deve ter-lhe custado ficar muitos dias de molho, sem exercer a sua função profissional, acho até que para ele seria bastante difícil caminhar, quanto mais dirigir... 

(A Noite, 12/03/1952)

Nessa próxima informação, apesar de ser sobre um acidente com um ônibus da empresa, nos mostra a existência de uma linha desconhecida até então, Cascadura x Camorim, pena não sabermos seu número.

(Diário da Noite, 13/07/1954)

A seguir, foto de ônibus da frota da Ideal. Carros novos, caros e sem estrada de rodagem para atender às necessidades deles e da população.

Viação Ideal - década de 50

Já entrando pela década de 50, a Ideal, com seus possantes veículos, tem problemas financeiros devido ao descaso das autoridades – não nos referimos ao preço das passagens cobradas –, e sim pela falta total de estrutura da Prefeitura para manter o perfeito estado das vias por onde a empresa trafega, principalmente por dois motivos importantes, o bem estar dos passageiros e a manutenção dos bons veículos da empresa, em circulação.

Nessa matéria podemos observar uma nova linha explorada por ela, Cascadura x Recreio.

(Diário Carioca, 10/05/1955)

(Gazeta de Notícias, 05/06/1955)

Vejam que o “inusitado hábito” de incendiar e depredar ônibus não é de hoje, já era fato em 1955, conforme nos mostra o recorte a seguir .

(Correio da Manhã, 15/07/1955)

As fichas mostradas adiante, como são da década de 50, devem ter sido usadas nas linhas de Jacarepaguá.



E agora, aqui temos a data efetiva na qual a Ideal deixou de trafegar em Jacarepaguá e foi para Ilha do Governador operar a linha 207 – Castelo x Ribeira, obedecendo ao seguinte itinerário: Ribeira, Jardim Guanabara, Estrada do Galeão, Av. Brasil, Av. Francisco Bicalho, Av. Pres. Vargas, Rua Uruguaiana, Rua Alm. Barroso, Rua Graça Aranha e Castelo. Na volta, Av. Rio Branco, Av. Pres. Vargas e demais ruas como na vinda.

Assim começa a segunda via crucis da Ideal, mudando literalmente seu local de trabalho, de Jacarepaguá (Zona Rural) para a Ilha (Zona Norte).

(Diário de Notícias, 04/09/1955)

Aqui, juntos, temos dois exemplares da Ideal, provavelmente alugados para algum clássico que estivesse acontecendo no Maracanã.

(Acervo: Memória do Ônibus)

Temos uma reportagem feita por um jornal, exclusivamente sobre a Viação Ideal, onde seu proprietário revelou seu desconforto pelos gastos com manutenção dos veículos e pelo não aumento das passagens. Soubemos também qual a causa que levou a empresa a sair de Jacarepaguá e ingressar na Ilha, além do convite do proprietário da Paranapuan. O que lhe magoou mais foi o fato de um dos seus veículos ter sido incendiado pela população a que atendia.

(Gazeta de Notícias, 18/08/1956)

Vemos a seguir outra notícia, onde é assegurado o transporte para a Ilha, executado pela linha Castelo x Ribeira.

(A Noite, 19/11/1957)

A próxima matéria mostra que há alguns interesses e “interessados” em que haja uma ligação com lotações ou micro-ônibus da Ilha para a Zona Sul e também para o Centro do Rio, coisa que comprovadamente não se faz necessário, bastando a prestação de serviço que a Ideal e a Paranapuan prestavam.

(Diário da Noite, 04/12/1957)

A matéria seguinte é de elogios à empresa, sob o aspecto pontualidade e limpeza dos seus veículos.

A outra é um caso interessante, ou no mínimo inusitado: os trocadores da Ideal declaram-se em greve, devido ao não pagamento do salário mínimo estabelecido por lei. O órgão competente se propõe até a penhorar os bens das empresas que não se adequarem a esse novo piso salarial!!!

Nessa matéria e na anterior podemos observar que a empresa já estava também operando a linha 205 – Cocotá x Castelo.

(Última Hora, 14/11/1958)

(Diário de Notícias, 02/04/1959)

Mantendo a sua tradição de usar carrocerias da Grassi, seguem quatro exemplos, sendo dois da década de 50 e outros dois de 60. Em um dos de 60, nota-se a falta da capelinha, para o número da linha

Agora as fichas já estampam as linhas que a empresa atendia na Ilha do Governador

Viação Ideal - década de 50



Viação Ideal - década de 60

Agora, caros confrades, segue uma descoberta que é total novidade no meio dos busólogos. A S-26 começou sua vida como Saenz Peña x Cocotá, operada pela Ideal, em 1962. 

(Diário de Notícias, 02/11/1962)

Temos então uma proposta dos moradores da Ilha, ouvida pela Ideal, para tentar colocar uma linha circular no interior da própria Ilha, atendendo da Freguesia ao Jardim Ipitangas e bairros do entorno.

(Diário de Notícias, 14/04/1966)

Nessa congratulação com os moradores da Ilha e, de tabela, informando seu atual endereço, Estrada do Galeão, nº 180, estrada esta que foi denominada como Av. Coronel Luiz de Oliveira Sampaio.

(Diário de Notícias, 02/06/1966)

A matéria a seguir nos mostra quais linhas estão sendo operadas pela Ideal, como também o desconforto dos moradores pelas atitudes tomadas por ela e pelo BTC (Bureau dos Transportes Coletivos).

As duas linhas circulares eram a 902 e 903 (Ribeira x Bananal, ambas), as quais acreditamos que anteriormente tenham sido Freguesia x Jardim Ipitangas.

Por sua vez, a 901, que era da Auto Viação Ilha, foi comprada pela Ideal, tanto a empresa quanto os seus veículos, dito pelos moradores caindo aos pedaços e posteriormente passados para a Guanabarina.

Além disso, a Ideal, que já operava a 696 – Méier x Cocotá, pretendia estender até a Freguesia, para acabar com a 901 – Bonsucesso x Bananal, algo que não ocorreu, pois a linha 696 foi para a Praia do Dendê e a 901, repassada para a Guanabarina e posteriormente, em 1973, para a Paranapuan. E tome reclamações para uma empresa que já teve seus méritos de elogios na década de 50, quando se plantou na Ilha.

(Diário de Notícias, 10/11/1966)

Interessante a propaganda da empresa, citando em quais linhas opera e informando o seu endereço e telefones.

(Diário de Notícias, 14/09/1967)

Últimos modelos das fichas usadas pela Ideal.



Duas amostras de jornais, dedicando uma página inteira à Ideal, no ano em que ela comemorou seus 50 anos, ainda com a presença do seu fundador, administrando-a.

(Ilha Notícias - 12/1983)

(Jornal Ônibus)

Ela mais uma inova, pensando em seus passageiros, ao adotar os populares “frescões”, nas suas duas principais linhas do Centro para a Ilha. Ônibus mais modernos do que os usados pelas demais empresas e com muita disponibilidade de horários, em ambos os sentidos.

(O Globo - Ilha, 16/12/1990)

(O Globo - Ilha, 23/12/1990)

Sete anos após a adoção dos “frescões”, a Ideal inova sendo a única empresa do município a adotar os micro-ônibus com ar condicionado.

(O Globo - Ilha, 29/06/1997)

No ano em que empresa completou seu 60º aniversário, seu fundador faleceu, ficando a firma na mão dos seus filhos, mantendo o ambiente familiar que ela sempre teve.

(O Globo - Ilha, 06/07/1997)

Porém em 1998 o ambiente familiar é desfeito, com a venda da Ideal para outros proprietários, que comunicam à população, compram novos micros e mudam a padronização visual da empresa.

(O Globo - Ilha, 01/11/1998)

Como citamos anteriormente, a empresa é a mais antiga das empresas cariocas em funcionamento, e em 2017 fará 84 anos. Esperamos que ela tenha condições de continuar em operação por mais tempo e que continue agradando aos seus usuários, como sempre quis o seu fundador, Luciano Stor.

Referência:

(1) – Jornal do Brasil, 24/12/1936.

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão]

2 comentários:

  1. Sensacional, ótimo trabalho. Só fiquei em dúvida quanto à citação da Auto Viação Ilha ter sido incorporada à Ideal. Eu morava em Bonsucesso e me lembro bem quando a linha 901, que era da Auto Viação Ilha foi para a Empresa de Transportes Guanabarina, sendo esta linha depois transferida para a Transportes Paranapuan. Quanto às linhas circulares 902 e 903, eu já tinha o registro delas, só não sabia a empresa que operou. Uma grande surpresa foi saber que a Ideal operou a antiga linha S-26, atual 634, antes da Paranapuan. (postado por Emilson França).

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  2. Emilson, grato mais uma vez pela visita e elogios ao trabalho por nós prestado. Podes crer que por ser a mais velha empresa na face da cidade do Rio de Janeiro, que foi mesmo trabalhosa na coleta e arrumação dos dados e matérias, mas valeu pela satisfação de quem lê. Grato novamente, visite nos sempre e um abraço amigo.

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